Você sabia que 1% da população do Brasil (2,1 milhões de pessoas, equivalente à população do Distrito Federal) controla 49% da nossa riqueza? E que os brasileiros 50% mais pobres não possuem riqueza nenhuma (possuem dívidas)? Nesse artigo fizemos gráficos e tabelas mergulhando nos dados sobre distribuição da riqueza.
Existem duas importantes fontes de dados sobre desigualdade econômica no mundo. Todos os anos o banco Credit Suisse elabora o Global Wealth Report. Esse relatório mostra a desigualdade econômica no mundo em quatro faixas de riqueza (US$ 0 / 10K / 100K / 1M).
A outra importante fonte de dados sobre desigualdade econômica é o World Inequality Database (WID). O economista Thomas Piketty, autor do famoso livro O Capital no Século XXI, é um dos responsáveis. No WID as faixas não são as mesmas do Global Wealth Report, eles utilizam percentis (1%, 9%, 40%, 50%). Se você quiser fazer seus próprios cruzamentos de dados procure pelos Key Indicators – Wealth Inequality Indicators dentro de wid.world/data/.
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Distribuição da Riqueza no Mundo
Um dos gráficos mais famosos do Global Wealth Report é essa pirâmide da desigualdade:
Desigualdade Econômica Global – Global Wealth Report
Uma outra forma de enxergarmos essa pirâmide é pelo ângulo da riqueza total nas mãos de cada classe e número de pessoas:
A forma correta de lermos os dois gráficos acima é a seguinte:
- Os milionários do mundo correspondem a aproximadamente 1% da população adulta global e eles detém 48% da riqueza global.
- A classe média (pessoas com riqueza entre US$ 100.000 e US$ 1 Milhão) é composta por 12% da população mundial e possui 38% da riqueza.
- Os pobres (pessoas cuja riqueza está entre US$ 10.000 e US$ 100.000) são 34% da humanidade, porém possuem 13% da riqueza.
- Já os miseráveis (pessoas com riqueza inferior a US$ 10.000) são 53% da população humana, contudo sua riqueza equivale a 1,1% do total.
Distribuição da Riqueza no Mundo
Pelo critério da divisão em percentis (1%, 9%, 40%, 50%) a riqueza mundial distribuída nas quatro classes sociais fica assim:
Os dados do WID são de 2021 e nós (O Iceberg) trabalhamos nesses dados em setembro de 2022.
A tabela acima transformada na visualização da distribuição da riqueza no mundo em 2021 com tamanhos comparáveis é a seguinte:
A forma correta de lermos a tabela e o gráfico acima é a seguinte:
- O top 1% mais rico do mundo, 79 milhões de pessoas, possui 38% da riqueza humana, 177,7 Trilhões de dólares. Isso corresponde a US$ 2,2 Milhões de patrimônio acumulado por pessoa rica.
- Os 9% a seguir, a classe média, 711 milhões de pessoas, possuem uma outra fatia de 38% da riqueza produzida pela humanidade. Isso corresponde mais precisamente a 175,8 Trilhões de dólares. Uma média de US$ 247.236 per capita.
- Os 40% abaixo, as pessoas pobres, uma população de 3,2 Bilhões, possuem 22% da riqueza, 101,7 Trilhões de dólares. Isso corresponde a US$ 32.186 por pessoa.
- Já os 50% de baixo, os miseráveis do mundo, são 4 Bilhões de seres humanos. Eles possuem 1,8% do estoque de riqueza mundial, 8,3 Trilhões de dólares. Por pessoa isso corresponde a US$ 2.112, o preço de uma moto usada.
Distribuição da Riqueza Global no Tempo por Classe Social
Podemos enxergar como a distribuição da riqueza no mundo por classe social variou nos últimos anos. O gráfico a seguir nos mostra que em 2014 os Milionários ultrapassaram o tamanho da fatia do bolo sob propriedade da Classe Média:
A fatia da riqueza em propriedade dos Miseráveis do mundo (50% da população) não passa dos 5% e vem caindo ano após ano desde 2010.
Distribuição da Riqueza no Mundo – Mapa com População Comparável
Outra forma de visualizarmos a distribuição da riqueza no mundo é comparando o tamanho das populações de países com o tamanho das classes sociais. Trata-se de um exercício de imaginação. Se, por exemplo, toda a população mundial fosse reorganizada e reagrupada por classes sociais, teríamos um mapa-múndi que poderia ser visualizado assim:
Vejam bem, esse mapa NÃO REPRESENTA as faixas de riqueza dos países. Ele procura simplesmente COMPARAR o tamanho das classes sociais no mundo com o tamanho das populações dos diversos países. Traduzindo isso:
- Em azul: a população do Reino Unido (United Kingdom – U.K.), no centro do mapa, é de 67 milhões de habitantes, comparável ao número de ricos do mundo: 79 milhões de pessoas.
- Em verde: a população dos outros seis países que compõe o G7 (Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão). São 707 milhões de habitantes, equivalente à classe média do mundo: 711 milhões de pessoas.
- Em laranja: a população dos quatro países que compõe os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). São 3,15 Bilhões de habitantes, população quase idêntica ao número de pobres do mundo: 3,16 milhões de pessoas.
- Em vermelho: a população dos demais países e o número de miseráveis do mundo são praticamente idênticos: 3,95 bilhões de pessoas.
Distribuição da Riqueza no Brasil
Os dados disponibilizados pelo Credit Suisse não podem ser desdobrados para o Brasil, mas os do WID podem. Fizemos isso. Pelo critério da divisão em percentis (1%, 9%, 40%, 50%) a riqueza brasileira distribuída nas quatro classes sociais fica assim:
Os miseráveis (50% da população) terem riqueza negativa (R$ -70 Bilhões) significa que eles têm mais dívidas do que patrimônio. A taxa de câmbio utilizada para facilitar a compreensão da realidade brasileira na moeda nacional foi de US$ 1,00 = R$ 5,00.
A tabela acima transformada na visualização da distribuição da riqueza no Brasil em 2021 com tamanhos comparáveis é a seguinte:
A forma correta de lermos a tabela e o gráfico acima é:
- O top 1% mais rico do Brasil, 2,1 milhões de pessoas, possui 49% da riqueza nacional, 8,1 Trilhões de reais. Isso corresponde a R$ 3,8 Milhões de patrimônio acumulado por brasileiro rico.
- Os 9% que vêm em seguida, a classe média, são 19,2 milhões de pessoas. Eles possuem uma fatia de 31% da riqueza produzida pelos brasileiros, mais precisamente 5,1 Trilhões de reais. Uma média de R$ 267.913 per capita.
- Os 40% abaixo, as pessoas pobres, uma população de 85,3 Milhões, possui 21% da riqueza nacional, 3,4 Trilhões de dólares. Isso corresponde a R$ 40.083 por pessoa, o preço de um Fiat Uno usado.
- Já os 50% de baixo, os miseráveis do Brasil, são 106,7 Milhões de brasileiros. Eles não possuem riqueza, mas sim -70 Bilhões de reais em dívidas. Por pessoa isso corresponde a R$ -655 de
riquezadívida.
Distribuição da Riqueza no Brasil – Mapa com População Comparável
Outra forma de visualizarmos a distribuição da riqueza é comparando o tamanho das populações dos estados com o tamanho das classes sociais no Brasil. Se, por exemplo, toda a população brasileira fosse reorganizada e reagrupada por classes sociais, teríamos um mapa do Brasil que poderia ser visualizado assim:
Reforçando: esse mapa NÃO REPRESENTA as faixas de riqueza dos estados brasileiros. Ele procura simplesmente COMPARAR o tamanho das classes sociais no Brasil com o tamanho das populações dos diversos estados. Traduzindo isso:
- Em azul: a população do Distrito Federal (DF), no centro do mapa, é de 3,1 milhões de habitantes. Ela é comparável ao número de ricos do Brasil: 2,1 milhões de pessoas.
- Em verde: a população dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina somada é de 18,8 milhões de habitantes. Ela é equivalente à classe média do Brasil: 19,2 milhões de pessoas.
- Em laranja: os três mais populosos estados do Sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) somados possuem 85,5 milhões de habitantes. Esse número é quase idêntico ao número de pobres do Brasil: 85,3 milhões de pessoas.
- Em vermelho: a população dos demais estados brasileiros e o número de miseráveis do país são praticamente idênticos: 105,9 milhões de habitantes. O número de miseráveis no Brasil é de 106,7 milhões.
Comparação da Riqueza: Mundo vs. Brasil
Podemos comparar também as diferenças de riqueza entre as classes sociais umas com as outras em um mesmo lugar (mundo, Brasil etc.). E podemos comparar as diferenças entre os diversos lugares (Ricos do mundo vs. Ricos do Brasil, por exemplo):
As revelações mais notáveis da tabela acima em relação à Riqueza Total são as seguintes:
- Os Ricos do Brasil são proporcionalmente mais poderosos em relação às outras classes sociais do que os Ricos do mundo em geral. Enquanto no Brasil os Ricos possuem 49% da riqueza brasileira, no mundo os Ricos conseguem ficar com “apenas” 38% da riqueza mundial.
- Já a Classe Média do mundo fica com uma fatia da riqueza 1,23 vezes maior do que a Classe Média brasileira. São 38% no mundo contra 31% no Brasil. Ou seja, a Classe Média do Brasil possui menos poder em relação aos Ricos do Brasil do que seus pares respectivos no mundo.
- Curiosamente, os Pobres do mundo e do Brasil ficam com uma parcela muito semelhante das riquezas totais. 22% da riqueza do mundo pertence aos 40% de pobres da população mundial. Enquanto que 21% da riqueza do Brasil pertence aos 40% de pobres da população brasileira.
- Já os miseráveis do mundo possuem alguma riqueza — ainda que seja uma miséria –, enquanto que os 50% de miseráveis do Brasil possuem dívida.
Miséria é miséria em qualquer canto. Riquezas são diferentes.
Em relação à Riqueza per capita, no mundo todas as classes sociais possuem mais riqueza do que seus respectivos pares brasileiros. O Rico médio do mundo, por exemplo, possui US$ 2.249.767, enquanto seu par brasileiro possui US$ 763.291 de riqueza, ou R$ 3.816.454.
Conclusão
No mundo todo é grave o problema da desigualdade de riqueza e ele vem se agravando ao longo dos anos. No Brasil esse problema é ainda mais grave. Os governos não combatem a miséria e a desigualdade. Não se trata de incompetência: são opções políticas de um regime político que serve à manutenção de relações de produção em profunda decomposição.
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Prezados Senhores.
Parabéns pela clareza na exposição dos temas. Contudo, tenho uma crítica contundente sobre as teses da distribuição da riqueza. No meu entender a distribuição de riquezas é crime contra a propriedade. O correto é focar na geração de riquezas, ou seja, fazer com que aqueles que não possuem riquezas gerem sua própria riqueza. Essa é a chave para o desenvolvimento e a sustentabilidade econômica, social e ambiental. A distribuição da riqueza, pura e simples, leva a conflitos intermináveis, a guerras sangrentas e a maior concentração da riqueza, portanto, aprofunda e amplia a miséria. É só ver os exemplos de Cuba, Venezuela e Argentina, etc. O estado brasileiro deveria ser libertador, não tutelador, transformando os 50% de miseráveis em pessoas independentes. Qualquer politica publica que não esteja focada em tornar as pessoas independentes e capazes de gerar sua própria riqueza é mera perda de tempo e de recursos.
Excelente conteúdo!! Que informaçao preciosa e feita com dedicaçao, meus parabéns foi o melhor que encontrei na internet sobre a questao da desigualdade social!!